Desigualdade e Racismo: Feridas Abertas na Sociedade Brasileira
- Quezia Silva
- 23 de nov. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 24 de nov. de 2024
A desigualdade social e o racismo persistem como desafios estruturais no Brasil, dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que, em 2022, a população cor branca ganhava (R$3.273), em média, 64,2% mais do que as de cor preta (R$1.994). Evidenciando um abismo econômico profundamente enraizado.
Além disso, um levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostrou que 77% das vítimas de homicídio no país são pessoas negras, destacando como o racismo estrutural afeta diretamente o direito à vida.
Essa disparidade não é fruto do acaso, mas o resultado de séculos de exclusão e políticas públicas ineficazes para combater a herança da escravidão e a discriminação racial.
Pleitear a saúde mental da população negra é um tema importante e relevante para a compreensão das disparidades e desafios enfrentados pela comunidade.
Para compreender melhor os reflexos dessas questões e discutir caminhos para enfrentá-las, conversei com a psicóloga e psicopedagoga Meire Queirós.
Com experiência nas questões relacionadas à saúde mental e às barreiras enfrentadas por minorias, Meire oferece uma análise sensível sobre como essas desigualdades afetam indivíduos e coletividades.

A seguir a entrevista:
Como a desigualdade racial impacta a saúde mental da comunidade preta, especialmente de jovens e mulheres negras?
"Primeiro começa pela questão da autoestima, a comunicação é diária que você é incapaz, que não consegue, que você não pode, que o seu lugar é na servidão. O tempo inteiro essa rotulagem é uma ferramenta de desmotivação e sabotagem, esse estigma que o preto sempre será visto atrás de um balcão.
Tudo isso perpassa por esse discurso de incapacidade dessas pessoas assim levando a sua autoestima totalmente dilacerada".
Quais são os principais desafios que essa população enfrenta para acessar serviços de saúde mental no Brasil?
"A questão financeira é a principal barreira a ser superada, é muito caro e as políticas públicas não estão atentas e dispostas num nível suficiente e adequado para dar acesso e suporte a comunidade preta. Eu atendo na saúde pública e afirmo que os lugares que você pode acessar são pouquíssimos, esses lugares não conseguem assistir um ser humano novo, tem que esperar um sair para você entrar, porém se esse sistema de acompanhamento é indicado a vida toda como isso pode ocorrer?
É caótico, evidentemente a conta não fecha e isso é muito triste de acompanhar. Ou seja, reiterando, todo o contexto na vida é pensado e criado para a pessoa branca, eles possuem todos os suportes e recursos para usufruir dos serviços a seu dispor".
De que forma a violência policial e o racismo estrutural influenciam o bem-estar emocional e a autoestima dos jovens?
"Ferindo os aspectos como identidade, autoconfiança e percepção de pertencimento social. Os jovens pretos que moram num ambiente de risco marcado pelo tráfico mesmo sem ser da organização é estereotipado, estar neste lugar bomba relógio é extremamente estressante, desse modo é natural e regular os danos à saúde mental.
Os sintomas comuns de quem sofre com esses ambientes extremamente hostis rotineiramente são crises de pânico e ansiedade.
Sabemos que os jovens são feitos de sonhos e desejos e o tráfico sendo uma organização que vem em uma desenfreada ascensão seduz justamente estes jovens com a facilidade de riqueza, da obtenção dos itens de desejo, e algumas vezes nem por itens pessoais, mais precisamente uma forma de se alimentar, ter uma renda para pôr comida na mesa.
Os jovens pretos têm infelizmente essas oportunidades o tempo todo de ingressar neste mundo, vemos diariamente essa guerra, e a minha leitura é que os que escapam e estão de pé podem dizer: “Hoje eu escapei por que tive sorte”, sabemos que a morte bate na porta ininterruptamente na vida dessas pessoas. Lamentavelmente muitas vidas e sonhos são ceifados precocemente".
Como a dupla jornada de trabalho e a falta de políticas de apoio afetam o equilíbrio emocional e psicológico das mulheres pretas?
"A dupla jornada afeta diretamente no cansaço, um cansaço que mina as forças e torna diversas mulheres impotentes de superar certas adversidades. O cansaço vem tomando formas além de físicas, mas também psicológicas e emocionais.
O cansaço mental está fazendo as mulheres ficarem reféns de suas limitações, duvidarem do seu potencial e desacreditarem que podem viver melhor e buscar as conquistas que elas merecem".
Quais abordagens psicológicas têm se mostrado mais eficazes no apoio à saúde mental da comunidade preta no Brasil?
"Então, depende do paciente e do profissional, eu venho trabalhando com as abordagens (TCC) Terapia cognitivo comportamental e a (ABA) análise do comportamento aplicada.
Eu gosto de trabalhar nessa linha de tratar, cuidar, psicoeducar e reprogramar a mente humana, pois o comportamento muda a partir da mudança de pensamentos, então eu vejo literalmente a melhora e os resultados surtindo efeito nos pacientes.
Eu observo os problemas, identifico, auxílio na mudança de postura, eles começam a lidar e solucionar suas questões, eu fico feliz em presenciar e ser parte ativa dessa crescente evolução prática e eficaz".
Você percebe um avanço nas políticas públicas e nas ações das instituições em relação à saúde mental da comunidade preta? O que ainda precisa ser feito?
"Percebo, lento mais está acontecendo, os projetos sociais estão tomando força, espaço e visibilidade. As políticas públicas estão mais abertas ao debate, a ouvir a população, e os profissionais da área para formular projetos acessíveis".
Como as políticas públicas, as instituições de justiça e segurança pública podem contribuir para mitigar os impactos negativos do racismo estrutural na saúde mental da população preta?
"Acredito que se os responsáveis pelas políticas públicas tiverem coerência, consciência, sensibilidade e vontade de promover mudanças, sugerir projetos coesos, embasados, estudados visando essa comunidade com certeza conseguiram reduzir os impactos negativos na população preta basta querer cuidar dessas pessoas, é imprescindível entender a importância dessas vidas".
Assim, concluímos a entrevista, a psicóloga e psicopedagoga Meire compartilhou o lema que guia sua trajetória e dedicou a cada um de vocês, leitores:
“Sonhe, não deixe de sonhar, lute por ele e realize! Você é capaz, basta você acreditar”.
Se você ou alguém que conhece está sentindo os efeitos dessas situações no seu bem-estar emocional, não hesite em procurar ajuda.
Para agendamentos ou mais informações, entre em contato com a psicóloga e psicopedagoga Meire Queiros através do Instagram @dra.meirequeiros e @meirequeirospsikids.
PROCURE AJUDA
Os CAPS são unidades públicas do SUS, oferecem atendimento psicológico, psiquiátrico e oficinas terapêuticas.
CVV (Centro de Valorização da Vida) Oferece suporte emocional gratuito para pessoas em sofrimento ou risco de suicídio. O atendimento é sigiloso, disponível por telefone, e-mail, ou chat.
Telefone: 188
Site: www.cvv.org.br
UBS (Unidades Básicas de Saúde)
As UBS oferecem suporte psicológico inicial e podem encaminhar para especialistas do SUS.
Como acessar: Marque uma consulta com um clínico geral na UBS para solicitar o atendimento psicológico.
Lembre-se: cuidar de você é um ato de coragem e amor-próprio. 💙
Você não está sozinho (a)!
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